Luisa Marques – Itatiaia
Após um temporal atingir Belo Horizonte e região metropolitana na tarde da última quarta-feira (29), vazamentos e alagamentos em algumas salas e nos estacionamentos no subsolo da Cidade Administrativa, sede do governo mineiro, assustaram servidores e visitantes dos prédios. Uma janela do 12º do edifício Gerais chegou, inclusive, a “sair voando” durante a tempestade.
Desde a inauguração do complexo, em 2010, cinco governadores estiveram no poder: Aécio Neves (PSDB) — que iniciou e terminou a construção —, Antônio Anastasia (PSDB), Alberto Pinto Coelho Jr. (PP), Fernando Pimentel (PT) e Romeu Zema (Novo).
Dentre denúncias de corrupção até problemas mais recentes, envolvendo, inclusive, a morte de um servidor, a construção irá completar, no mês que vem, 15 anos.
Construção
Antes da construção da Cidade Administrativa, a estrutura do governo estadual estava centralizada na Palácio da Liberdade, na região Centro-Sul de Belo Horizonte.
O complexo, projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer, ao custo estimado de R$ 2,1 bilhões, é formado por quatro prédios — Minas, Gerais, Tiradentes e Alterosas —, além de um auditório e um centro de convivência.
Em 2012, dois anos após a inauguração, foi realizada uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para discutir problemas na estrutura, como queda de janelas, alagamentos, trincas nas paredes e também no piso.
Desabamento de teto
Em 2015, parte do teto do prédio Minas desabou após uma ventania. Na época, foi confirmado que três janelas que estavam abertas, contrariando protocolos de segurança interna, também foram “arrancadas” pela força do vento, mas, ninguém ficou ferido.
Gestão petista tentou vender Cidade Administrativa
Durante o governo Pimentel, houve uma tentativa de vender a sede do Executivo estadual, que, no entanto, não deu certo.
Ao contrário da gestão tucana, que acreditava que a construção centralizava o governo e também economizava dinheiro, o petista via os prédios como uma despesa a mais para o estado.
Fernando Pimentel chegou a protocolar um projeto de lei na ALMG pedindo autorização dos deputados para, aos poucos, se desfazer dos edifícios.
O assunto também foi um dos embates principais entre Pimentel e Anastasia no primeiro turno de 2018. Na campanha eleitoral, Anastasia criticou o então governador, que tentava a reeleição, pelo fechamento do Palácio Tiradentes, um dos prédios do complexo administrativo, e por voltar a usar o Palácio da Liberdade, como sede do executivo estadual.
A decisão, segundo o petista, foi porque a mudança gerava uma economia de até 40% dos gastos nos cofres mineiros e classificou a construção como “desnecessária”.
Em junho daquele ano, Minas Gerais revelou que os gastos com a manutenção do prédio eram de R$ 9 milhões mensais, o que foi rebatido pelo PSDB.
PF indicia ex-governador por corrupção
Em 2020, a Polícia Federal (PF) indiciou o ex-governador Aécio Neves e outras 11 pessoas ligadas a empreiteiras por suposto superfaturamento na construção da Cidade Administrativa.
De acordo com a PF, os envolvidos teriam influenciado no processo de licitação e foram responsáveis pela contratação de serviços que nunca foram realizados.
Em dezembro do mesmo ano, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciou Aécio e outras 15 pessoas pelos crimes de peculato, corrupção e lavagem de dinheiro.
Na época, o MPMG alegou que as nove empreiteiras que fizeram as obras se uniram para “fraudar a licitação e repartir ilicitamente os contratos para a execução” do serviço.
Porém, uma sentença do juiz Michel Curi e Silva destacou que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de setembro de 2023, anulou as provas do Inquérito Policial 1035/2018, usadas para fundamentar a ação pública.
O MPMG recorreu da decisão argumentando que havia provas suficientes para dar continuidade a ação e foram feitos acordos de leniência e de não persecução cível com empresas envolvidas que já haviam confirmado irregularidades.
A Itatiaia procurou o Ministério Público para saber atualizações sobre o caso, mas, até o momento, não tivemos retorno.
Surto de carrapatos
Em 2019, primeiro ano do governo Zema, devido à falta de manutenção nos jardins, carrapatos-estrela “invadiram” a sede do governo estadual.
Uma placa chegou a ser afixada alertando sobre a presença dos parasitas, sugerindo aos servidores e visitantes que “verificassem” as roupas e o corpo “cuidadosamente a cada 3 horas”.
O governo justificou que a área estava sujeita a infestação já que é habitat de capivaras, que são hospedeiros naturais das pragas.
Prédio inundado
O alagamento da última quarta-feira (29) não foi o primeiro. Em 2019, uma chuva forte atingiu a Cidade Administrativa, deixando o subsolo do prédio Minas inundado de água.
Os equipamentos tiveram que ser desligados no momento do temporal e os servidores precisaram deixar o local pelas escadas.
Morte de servidor
Um servidor da Secretaria de Estado de Saúde, de 66 anos, morreu em novembro de 2023 no prédio Minas.
Segundo o Corpo de Bombeiros, a vítima estava inconsciente e sem respiração quando os militares chegaram no 13º andar.
O servidor teria tido um mal súbito aos subir os lances de escada, já que os elevadores estavam com pane elétrica e não estariam funcionando.
Home Office
Em maio de 2024, 8 mil servidores tiveram as atividades presenciais suspensas após uma perícia indicar problemas graves nos 54 elevadores dos prédios Minas e Gerais.
O governo Zema disse à época que os problemas identificados nas máquinas seriam decorrentes da “negligência e má construção dos edifícios”.
Incêndio
Um curto-circuito em uma das torres da central de ar-condicionado da Cidade Administrativa provocou um incêndio em julho de 2024. Ninguém ficou ferido, mas foram necessárias três viaturas do Corpo de Bombeiros para controlar as chamas.