Review: Nintendo Switch 2 é mais sóbrio, mais caro e mais poderoso

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Novo console da Nintendo aperfeiçoa tudo do seu antecessor, mas tem algumas ideias peculiares na manga

Bruno Silva

Para quem está acostumado a enxergar a Nintendo como uma empresa de videogames que pensa fora da caixa e tem na inovação uma de suas principais marcas, o Nintendo Switch 2 pode ser um pequeno choque. O número no título já é suficiente para explicar o que a fabricante quer: familiaridade. Mas esse aparente conservadorismo no conceito esconde uma série de nuances.

Pela quinta vez em quase 40 anos produzindo videogames, a Nintendo está em uma situação como a atual, em que é desafiada a fazer o sucessor de um aparelho muito bem-sucedido. Nas duas primeiras vezes, o avanço técnico já falava por si só: em 1990 e 2001, o Super Nintendo e o Game Boy Advance se limitaram a entregar um hardware melhor do que o NES e o Game Boy, e deixar o resto nas mãos da criatividade dos seus desenvolvedores. Deu muito certo.

Mas, nas outras duas vezes, ambas mais recentes, o caminho não foi tão simples assim. O Nintendo 3DS era tecnicamente superior ao Nintendo DS, mas foi lançado com um preço de US$ 250, caro para a época, e apostava alto na onda do 3D estereoscópico. O público não comprou a proposta, e o aparelho só vingou depois de ignorar esse truque e fazer um corte agressivo de preços. Já o Wii U ficou marcado como um dos maiores fracassos da Nintendo justamente porque aprendeu as piores lições possíveis de seu antecessor, o Wii, com um nome que confundiu os consumidores e uma ideia de jogos portáteis que ainda não estava plenamente desenvolvida.

Todas essas experiências parecem moldar o Switch 2 de uma maneira curiosa. O console do presente e do futuro da Nintendo mostra como a fabricante está de olho no próprio passado. Ele é muito mais um Super Nintendo ou um GBA de seu tempo do que um 3DS ou um Wii U; mais focado em melhorar a experiência de seu antecessor entregando um híbrido de portátil e console de mesa com mais poder gráfico, mais processamento e mais memória, o que, inevitavelmente, fez dele um videogame muito mais caro, não só para os consumidores brasileiros, mas até mesmo em mercados mais estratégicos para a Nintendo, como o dos Estados Unidos.

Mas, no fundo, por trás de sua proposta óbvia, há também algumas estratégias e decisões de design nas quais é possível ver a Nintendo que inova e exercita sua criatividade.

Design

primeira impressão que o Switch 2 deixa é de sobriedade. Não é de hoje que a Nintendo abandonou suas raízes na indústria de brinquedos quando se trata do visual de seus aparelhos, o que o primeiro Switch tentou disfarçar ao inundar o mercado com diversas versões coloridas do Joy-Con, que davam uma cara divertida ao aparelho.

O Switch 2 lembra muito mais um smartphone ou um tablet do que um videogame, com sua carcaça grafite, na qual há cores escondidas nas laterais e na circunferência dos analógicos do Joy-Con 2. Mas a sobriedade também trouxe algumas vantagens. Além do acabamento mais refinado, o plástico parece muito mais robusto, uma sensação que também é fortalecida pela mudança na conexão magnética dos controles com o portátil, que detalharemos mais para frente neste review.

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A tela maior também puxou levemente as medidas do aparelho para cima. Com 11,4 cm de altura e 27 cm de largura, o Switch 2 é um pouco maior do que a primeira versão do Switch 1 e praticamente do mesmo tamanho do modelo OLED. Mas a sensação de pegá-lo e o encaixe nas mãos é praticamente o mesmo por conta da espessura de 1,4cm, exatamente a mesma nos três aparelhos, o que faz este modelo maior ficar tão confortável na mão quanto seus antecessores. 

A diferença mais perceptível do Switch 2 está no peso. São cerca de 530g com os Joy-Con encaixados, contra 400g do primeiro Switch (e 420g do Switch 1 OLED). Parece pouco, mas é algo que pode fazer diferença se você precisar segurar o console durante sessões mais prolongadas, ou em posições na qual não há como apoiar o videogame no próprio corpo ou em uma superfície, o que a Nintendo batiza de modo semiportátil (ou tabletop, em inglês).

Falando no apoio em superfícies, as melhorias feitas no design do aparelho parecem ter sido pensadas para esse uso. Seguindo uma tendência que vinha desde a revisão do modelo OLED, o Switch 2 tem um suporte de apoio que se estende por toda a parte traseira do console, feito com um plástico bem resistente. Além de garantir uma firmeza que o console anterior nunca teve, o suporte também pode ser flexionado em até 150º, o que facilita o uso em diferentes situações.

Nintendo Switch 2

Nintendo;Divulgação

Outra melhoria de qualidade de vida para quem gosta de jogar apoiando o console vem de seu sistema de conexões e botões. Na parte de cima, a maior e mais bem-vinda novidade é uma entrada USB-C, que serve tanto para acessórios quanto para o carregamento do console, resolvendo um problema de uso do Switch em que era impossível carregar o videogame no modo semiportátil. Além dessa entrada, o topo do console também conta com o botão de ligar e desligar, o comando de volume, o sensor de luminosidade da tela, uma saída de ar e a entrada para cartuchos.

Já na parte de baixo, o console tem outra entrada USB-C, utilizada também para carregamento e encaixe na base de conexão com a TV, e mais duas cavidades que fazem jornada dupla como saída de ar e alto-falante. Já atrás, escondido por trás do suporte de apoio, fica a entrada para expansão de armazenamento via cartão de memória.

As laterais acabaram, meio que sem querer, chamando a atenção na parte visual por serem pintadas de vermelho e azul, combinando com o encaixe dos Joy-Con 2. Na parte externa, existe apenas a conexão com os controles, que se fixam ao videogame por meio de imãs localizados na parte de dentro do aparelho.

Já a base de conexão com a TV também cresceu para se acomodar ao tamanho do Switch 2, com 11,43 cm de altura, 27,2 cm de largura e 5 cm de espessura dispostos em um formato mais arredondado. Seguindo novamente melhorias implementadas desde a versão OLED do Switch 1, a base tem uma tampa removível, o que facilita a conexão dos cabos de força, HDMI e LAN (outra melhoria que existe desde o Switch 1 OLED). Na parte externa, também há duas entradas USB 2.0 para a conexão de carregadores de controle e outros acessórios.

Falando na alimentação, o Switch 2 conta com um adaptador bivolt que consome um pouco mais de energia em relação ao primeiro. Os carregadores do primeiro Switch funcionam no novo console para carregamento, mas não para a conexão com a TV por meio da base.

Hardware

Todo esse aumento de tamanho foi muito bem aproveitado pela tela tátil de 7,9 polegadas que ocupa quase toda a parte frontal do console, eliminando quase por completo a borda preta que existia tanto na tela do Switch 1 (6.2 polegadas) quanto no modelo OLED (7 polegadas). Além de maior, a tela do Switch 2 apresenta uma excelente qualidade de imagem mesmo sem utilizar tecnologia OLED, que é considerada o topo de linha do mercado na atualidade especialmente  quando se trata das cores. O console usa uma tela LCD, mas compensa essa escolha com outros recursos tão importantes quanto qualidade e imagem quando se trata de uso para games. Um deles é a tecnologia de grande alcance dinâmico, ou HDR. O display, que tem resolução Full HD (1920 x 1080 pixels) tem padrão HDR 10, que entrega uma gama ainda maior de cores e melhor contraste. 

Mas o recurso mais importante é a taxa de atualização variável (VRR) de até 120Hz. Essa taxa, que é comparável a de monitores gamers, representa a velocidade com que a tela muda a imagem, em sincronia com a quantidade de imagens que o jogo está gerando. No papel, o Switch consegue rodar jogos a até 120 fps, mas isso vai depender dos jogos em si e como eles são programados para esse hardware. O normal é que a gente veja jogos em 30 ou 60 quadros por segundo, e o fato de a tela ter uma taxa variável garante que a imagem tenha bastante “fluidez”, diminuindo ao máximo a possibilidade de stuttering, aquele “picotado” horizontal que às vezes aparece em um jogo, ou um travamento da imagem.

Debaixo do capô, o Switch 2 reedita a parceria da Nintendo com a NVIDIA, com uma versão customizada do chip T239 com oito núcleos de arquitetura ARM Cortex A78C em velocidades que vão de 998MHz a 1.1GHz, e clock máximo de 1.7GHz. Já a memória RAM LPDDR5X é de 12GB, dos quais 9GB podem ser acessados pelos jogos, enquanto os três restantes são alocados para o sistema operacional.

A GPU, também integrada no T239, usa a arquitetura Ampere, a mesma das placas de vídeo de série RTX 30 da NVIDIA. São 1536 núcleos CUDA, que permitem ao sistema usar este poder computacional para outras tarefas além de processamento gráfico, em velocidades de até 1.4GHz. Nominalmente, o desempenho computacional é de 1.71 teraflops no modo portátil e 3.02 teraflops no modo TV.

No papel, os números colocariam o Switch 2 em um patamar próximo de aparelhos como o do PlayStation 4 Pro e o do Xbox Series S quando se trata apenas da capacidade de gerar gráficos. No entanto, a parceria com a NVIDIA faz o chip do console contar com tecnologias que o ajudam a entregar uma qualidade de imagem e resolução ainda melhores.

O processador conta com núcleos RT, responsáveis por calcular o traçado de raios (ray tracing) em tempo real, garantindo iluminação realista. Já os núcleos tensores são as tecnologias por trás do DLSS, ou Deep Learning Super Sampling, que usam inteligência artificial generativa para aumentar a resolução de uma imagem que o sistema não conseguiria rodar nativamente. Sendo assim, um jogo em 720p no Switch 2 pode rodar em 1080p ou mais, com o DLSS preenchendo as lacunas de qualidade de imagem que normalmente existiriam quando você amplia o tamanho da imagem partindo de sua resolução nativa. Com essa tecnologia, o Switch 2 garante imagens com resolução em até 4K quando conectado a uma TV.

Na parte do armazenamento e do carregamento dos jogos, a memória flash utilizada desde o Switch 1 já garante um carregamento rápido nos moldes do que a geração atual de consoles vem experimentando desde que o PlayStation 5 e o Xbox Series adotaram o SSD como padrão.

Naturalmente, com um hardware e memória superiores, o Switch 2 já carregaria mais rápido seus jogos, mas uma tecnologia de descompressão de dados faz com que a velocidade do aparelho impressione. No nosso teste simples, o console não precisou de mais do que 39 segundos, no modo portátil (e 35 conectado à base), para ir de um estado totalmente desligado para o modo de exploração livre de Mario Kart World. No modo de repouso, o tempo de espera foi ainda menor: 26 segundos no modo TV, 28 no modo portátil.

Toda essa atualização tecnológica resulta em jogos mais pesados, o que fez o Switch 2 já vir de fábrica com um armazenamento mais robusto em relação ao seu antecessor. O console conta com 256GB de espaço, dos quais cerca de 230GB estão disponíveis para jogos.

Nos nossos testes, conseguimos instalar 15 jogos no Switch 2, mas a seleção de títulos traz más notícias para quem está preocupado com armazenamento. Mais da metade dos 230GB foi ocupada com apenas cinco jogos: Cyberpunk 2077 (59,4GB), Fortnite (37,8GB), Mario Kart World (21,9GB) e as versões de Switch 2 de The Legend of Zelda: Breath of the Wild (24GB) e Tears of the Kingdom (20,1GB). O que há em comum entre todos estes games? Todos foram otimizados para o Switch 2, são exclusivos da plataforma, ou não foram lançados no Switch 1.

Sendo assim, o futuro aponta para um cenário em que os donos de Switch 2 podem se ver frequentemente obrigados a instalar e desinstalar jogos. O armazenamento pode ser expandido para até 2 TB com o uso de cartões de memória, mas o console aceita apenas o padrão microSD Express, que é mais caro em relação ao microSD padrão. 

Para aguentar todo esse processamento, a Nintendo colocou no Switch uma bateria de íons de lítio de 5220 miliamperes. Em suas especificações técnicas, a fabricante diz que o aparelho aguenta de 2 a 6 horas e meia até descarregar, dependendo dos jogos que você usa. Na prática, nossos testes mostraram que a duração da bateria do console está mais próxima dos números menores.

Jogando Mario Kart World em intervalos intermitentes e com a configuração de iluminação adaptada ao ambiente ligada, o Switch 2 aguentou cerca de três horas até a bateria descarregar. Cerca de 40% da bateria foi embora só na primeira hora de uso. Observamos um padrão semelhante jogando games que, em teoria, exigem menos do console, como Vampire Survivors, que “comeu” cerca de 10% da bateria após uma partida normal de 30 minutos.

É possível ajustar as configurações para, em teoria, melhorar o desempenho da bateria, como diminuir o brilho da tela manualmente. Há também nas opções uma seleção para evitar que o console ultrapasse os 90% de carregamento, esticando a vida útil da bateria e evitando que ela fique “viciada”. Mesmo assim, e com todos os esforços da Nintendo de otimizar o console, ele provavelmente vai durar menos fora da tomada do que o primeiro Switch.

Controles

Nintendo Switch 2 Joy-Con 2

Nintendo/Divulgação

O Joy-Con foi uma peça fundamental para a proposta do Nintendo Switch. A possibilidade de destacar o controle do restante do aparelho é o que efetivamente transforma o console em portátil e vice-versa. Mas esse pequeno controlador tinha alguns problemas que a segunda versão busca, ao menos, minimizar.

O controle foi um dos maiores beneficiados pelo aumento do tamanho do Switch 2, ainda que indiretamente. Os 11,43 cm de altura, 1,42 cm de largura e 3,04 cm de espessura podem não parecer tão imponentes no papel, mas fazem uma enorme diferença na hora em que você segura o Joy-Con 2. Com o aumento do tamanho do controle, também aumentaram o tamanho dos botões, analógicos e gatilhos, o que deixou tudo mais ergonômico. 

Essa melhora deixou ainda mais cômodo jogar com o Joy-Con 2 no modo para dois jogadores, quando você usa apenas um dos dois controles que já vem com o console, segurando-o na horizontal. Assim como o restante do aparelho, o controle também tem uma aparência mais sóbria, e seu plástico passa uma sensação de maior robustez.

Mesmo com uma superfície maior, o Switch 2 não muda em praticamente nada a disposição dos botões de seu antecessor, repetindo os mesmos formatos, dos direcionais aos botões frontais. A única novidade é o C, um botão específico para a ativação da função GameChat, uma das maiores apostas do aparelho em relação a serviços e interface, que detalharemos mais para frente.

O que infelizmente não mudou no Switch 2 é o analógico, que foi um dos maiores vilões do console anterior por apresentar uma alta incidência de drift, no qual a alavanca registra movimentos mesmo quando não é tocada. A Nintendo promete que o aumento do tamanho do analógico vai deixá-lo mais resistente, mas sua composição é praticamente a mesma de seu antecessor, o que, em tese, deixa o controle ainda suscetível a esse problema.

O Joy-Con pode ser utilizado tanto conectado ao console, quanto destacado, comunicando-se com o aparelho via bluetooth. Na caixa, o Switch 2 também tem um suporte de plástico no qual é possível encaixar o Joy-Con 2, transformando-o em um controle mais tradicional. 

A maior novidade nesse sentido é a mudança do método de encaixe do controle, que agora usa magnetismo em vez de um trilho físico. Os alargados botões SL e SR, que ficam na parte colorida lateral do Joy-Con 2 e são feitos de aço, são atraídos por ímãs que ficam na parte de dentro do console (ou do suporte de plástico). Para retirá-los, é preciso apertar uma trava de segurança e fazer uma forcinha na hora de puxar. Por outro lado, a atração magnética deixa os controles ainda mais firmes no console, eliminando quase por completo que eles escapem do aparelho por acidente.

Por último, mas não menos importante, o Joy-Con 2 também pode ser usado como um mouse. Para fazê-lo, é preciso apoiar a parte lateral do controle em uma superfície e usando as alças de segurança como base. O sensor tem uma precisão impressionante, especialmente levando em conta como o Joy-Con 2 é muito mais fino em relação a um mouse tradicional. Além disso, o giroscópio também permite ações que mouses convencionais não são capazes de fazer em um jogo, como clicar em um objeto e girá-lo com o movimento natural das mãos.

Também é impressionante a rapidez com que os jogos podem reconhecer quando o controle é usado de forma tradicional e quando é usado como mouse — basta apoiá-lo em uma superfície e começar a usar. O dispositivo também consegue se adaptar bem a vários tipos de superfícies diferentes, como por exemplo a perna do usuário, caso ele esteja jogando com o mouse em um sofá. No entanto, o melhor jeito de jogar continua sendo com o mouse apoiado em uma mesa. Para alguns jogos, há a opção de conectar um teclado e mouse convencionais pelas portas USB-C.

No lançamento, ainda há poucos jogos que usam a funcionalidade do mouse, mas essa opção abre as portas para uma série de jogos que, por conta de sua interface, tradicionalmente são mais ligados ao PC, como os de estratégia e construção. Há também a possibilidade de tipos de interface pouco testados, como usar o controle esquerdo com um analógico e o direito como mouse, ou até mesmo dois mouses, como a Nintendo propõe no vindouro Drag X Drive.

Além do Joy-Con 2, a Nintendo também lançou uma nova versão do Pro Controller específica para o Switch 2, que mantém praticamente o mesmo formato, adicionando apenas o botão C e dois botões customizáveis na parte traseira, além de adicionar detalhes em branco na base dos analógicos e na parte de cima. O Pro Controller já era um dos melhores controles disponíveis no mercado, com uma ergonomia excelente, boa qualidade de botões e uma bateria com vida útil surpreendentemente longa. Seu sucessor mantém todas essas qualidades, e é ainda mais leve.

O Switch 2 também aceita tanto o Joy-Con quanto o Pro Controller do Switch 1. Essa retrocompatibilidade é bem-vinda, já que os fãs e veteranos da marca não vão precisar gastar mais dinheiro em novos periféricos para o multiplayer local. Os controles antigos não tem botões de conexão direta com algumas das novas funcionalidades do Switch 2, mas é um preço pequeno a se pagar diante da possibilidade de reaproveitar o que você já tem no aparelho novo.

Interface

A interface será extremamente familiar para quem já vem do primeiro Switch, para alívio de muitos que não terão de reaprender onde ficam cada um dos menus do console, e tristeza de alguns que torciam para ver a Nintendo retomar os tempos dourados de menus charmosos e cheios de vida como os canais do Wii.

A empresa até faz um aceno a isso em termos de efeitos sonoros, com o console fazendo pequenos barulhinhos ao ligar e até mesmo tocando uma simpática trilha de boas-vindas na primeira configuração do console. Gracinhas iniciais à parte, a experiência é praticamente a mesma do primeiro Switch, com a lista de jogos aparecendo em destaque no centro da tela. Os cantos superiores continuam exibindo o ícone de acesso a sua página de usuário e as informações de conectividade e duração da bateria.

Já a parte de baixo tem uma barra com 10 ícones que levam a páginas diversas. São eles:

  • Nintendo Switch Online: Leva a página de recursos da assinatura do Switch Online, como missões e recompensas de jogos, ofertas especiais e a lista de dados de jogos salvos na nuvem.
  • GameChat: Inicia o aplicativo de bate-papo nativo do Switch 2, no qual é possível chamar amigos para conversar e configurar opções de câmera, microfone e compartilhamento de tela.
  • Novidades: Página de notícias da Nintendo.
  • Nintendo eShop: Acesso à loja digital do Switch 2 e ao menu de inserção de códigos de jogo.
  • Álbum: Pasta de captura de imagens e vídeos do console, com opções de compartilhamento.
  • GameShare: Funcionalidade que permite compartilhar seus jogos via comunicação local com outras pessoas para partidas multiplayer. Pode ser usado em alguns títulos tanto no Switch 2 quanto no Switch 1 (que, por sua vez, apenas pode receber jogos compartilhados).
  • Controles: Menu de detecção e registro de controles do Switch, onde você pode sincronizar os Joy-Con, Pro Controller e outros tipos de joystick.
  • Cartões de jogo virtuais: Sua lista de jogos em mídia digital, que podem ser “emprestados” para membros da sua família no Switch Online.
  • Configuração do console: Acesso ao menu de configurações gerais, atualização do sistema, entre outros.
  • Modo de descanso: Coloca o Switch 2 em repouso.

Tudo o que a interface do Switch 2 não entrega em charme ou identidade é compensado com sobras por uma experiência eficaz.  Indo direto ao ponto, sem colocar notificações intrusivas ou redes sociais no caminho entre você e os seus jogos. A simplicidade dos menus também ajuda na rapidez das transições entre a tela de jogo e a home do videogame, ou no carregamento de jogos. Abrir um aplicativo por engano não é um problema no console, dada a velocidade com que você pode retornar ao menu, muitas vezes sem nem esperar um boot inicial de um jogo. 

A mesma praticidade se estende ao acesso ao eShop. A loja parece carregar mais rápido, embora as informações de preços e ofertas ainda estejam atreladas a uma página web, o que pode demorar para aparecer ou não dependendo da sua conexão à internet.

A falta de mudanças se estende até a funcionalidades que precisavam de uma revisão, como a opção de compartilhamento de clipes de gameplay, que continua ruim, permitindo apenas a captura de clipes com poucos segundos. Todo o sistema, que originalmente foi pensado para compartilhamento com redes sociais, deixou de fazer sentido, já que o Switch 2 não é integrado a nenhuma delas – você precisa passar fotos e vídeos do console para um smartphone, por meio do próprio aplicativo da Nintendo, para então compartilhar os conteúdos, em um processo burocrático que só tira a vontade de usar essas funções.

Serviços

A Nintendo sempre pareceu estar a reboque de suas concorrentes no que diz respeito aos seus serviços online e funcionalidades sociais, raramente adotando padrões que se vê nos aparelhos da Sony e da Microsoft, com suas ofertas de jogos gratuitos mensais. Durante toda a vida do Switch, a fabricante certamente olhou para isso e fez do Switch Online um serviço mais simples, focado especialmente em nostalgia.

O princípio básico do Switch Online é o mesmo adotado por seus concorrentes: você precisa pagar para jogar os modos online da maioria dos títulos da plataforma, com algumas exceções como Fortnite. Ao longo dos anos, a empresa foi adicionando aplicativos com um catálogo seleto de jogos de suas plataformas antigas, como o NES e o Super Nintendo. Depois, criou um pacote adicional que dá acesso a jogos do Nintendo 64 e do Mega Drive.

Para o Switch 2, a grande novidade no Switch Online é a chegada de jogos do GameCube, console de sexta geração lançado pela fabricante japonesa no início dos anos 2000. Finalmente é possível jogar clássicos como The Legend of Zelda: Wind Waker no Switch 2, mas eles só estão disponíveis na modalidade mais cara de assinatura, com pacote adicional.

No momento de publicação deste review, a Nintendo cobra pelo Switch Online uma mensalidade de R$ 24, com descontos para assinaturas mais longas: o plano trimestral sai por R$ 48 (R$ 16 ao mês), e o plano anual fica em R$ 120 (R$ 10 por mês). É possível fazer também. Já a anuidade do plano com o pacote adicional é mais salgada: custa R$ 300 por ano (R$ 25 por mês). A empresa também disponibiliza planos família, nos quais até oito contas podem entrar, por uma anuidade de R$ 300, ou R$ 470 incluindo o pacote adicional.

GameChat Nintendo Switch 2

Nintendo/Divulgação

A grande aposta da Nintendo nessa área gira em torno do GameChat, a funcionalidade mais alardeada pela empresa desde o anúncio do console. Reflexo da época da pandemia, esse serviço imita a experiência de apps de bate-papo online como o Discord, em que você pode fazer chamadas de áudio e vídeo em grupo com pessoas da sua lista de amigos, além de compartilhar a sua tela de jogo ou assistir ao que seus amigos estão jogando.

Para fazer chamadas de áudio, você precisa apenas do console, que consegue captar a sua voz mesmo que o aparelho esteja distante de você. Da mesma forma, o sistema também suprime o volume do jogo, entregando para as pessoas da conversa um áudio limpo mesmo se a pessoa estiver sentada em um sofá enquanto o videogame está conectado à TV em um rack do outro lado da sala. A qualidade de som e a tecnologia de eliminação de ruído impressionam bastante, adaptando-se bem à variedade de usos que o Switch oferece.

Mas quando se passa para as capacidades de vídeo, é necessário utilizar uma câmera com conexão USB-C. A Nintendo lançou uma câmera própria, que conta com lente grande angular para situações em que todas as pessoas de um sofá podem estar no enquadramento. O GameChat também permite que você apague o fundo de sua tela, e em alguns jogos como Mario Kart World, mostra o seu rosto próximo de seu personagem, captando reações em momentos-chave de gameplay. No material publicitário do Switch 2, as transmissões de jogos de outras pessoas no GameChat eram mostradas com alguma latência na imagem, mas nem isso é o suficiente para retratar os travamentos e a baixíssima taxa de quadros que o serviço entrega para quem está assistindo. 

Nintendo Switch 2 Camera

Nintendo/Divulgação

Em nossos testes, mesmo utilizando conexões de internet com taxa de upload alta o suficiente para transmitir lives de games com resolução 1080p e 60 quadros por segundo, o GameChat sofreu para mostrar os jogos com um mínimo de qualidade. Quando tentamos transmitir títulos mais parrudos como Cyberpunk 2077, os travamentos foram ainda piores. Não é algo que atrapalha a experiência do seu jogo, mas certamente é difícil de acompanhar.

O GameChat até tem uma interface simpática e boas opções de acessibilidade, como uma função de transcrição em tempo real de voz para texto e vice-versa, mas a baixa qualidade de transmissão de imagem não o torna um bom substituto de aplicativos como o Discord. Vale ressaltar também que o GameChat é gratuito por tempo limitado, e passará a ser exclusivo dos assinantes do Switch Online a partir de 1º de abril de 2026. Por enquanto, a gratuidade até pode convencer alguns a experimentar a função, mas pagar por isso é outra história.

Jogos

O Nintendo Switch 2 é marcado por uma transição de gerações curiosa no que diz respeito à sua lista de jogos. O console vive uma situação muito parecida com a do PS5 e do Xbox Series X|S, que chegaram às lojas com uma oferta de títulos exclusivos bem miúda, com a maioria dos títulos first-party de 2025 também previstos para o Nintendo Switch 1, para não deixar de lado uma gigantesca base de usuários.

Mas essa via também é de mão dupla, já que o Switch 2 pode contar com um luxo que o seu antecessor não teve: a retrocompatibilidade. Enquanto a Nintendo abandonou o Wii U sem cerimônias e remasterizou praticamente todo o seu catálogo para o primeiro Switch, o novo console já larga com um catálogo extenso de jogos. Quem já está na plataforma da Nintendo vai pegar o novo console já com uma coleção em mãos, sem precisar esperar por lançamentos para ter o que jogar.

Sendo assim, o line-up de títulos do Switch 2 conta com alguns poucos exclusivos, como Mario Kart World e, a partir de julho, Donkey Kong Bananza, mas quem encorpa a lista são versões melhoradas de jogos do Switch 1, seja em relançamentos a preço cheio (ou uma taxa pela atualização), como The Legend of Zelda: Breath of The Wild e Tears of the Kingdom, ou Super Mario Party Jamboreeseja em atualizações gratuitas, como é o caso de ARMSSplatoon 3 e Super Mario 3D World + Bowser’s Fury.

Aqui, a estratégia da Nintendo não é tão diferente da Sony e da Microsoft, oferecendo versões melhoradas de jogos já lançados na torcida para que a maior parte dos donos de 152 milhões de unidades do Switch migrem para o seu sucessor o quanto antes. Mas, curiosamente, essa estratégia de reciclar jogos antigos não é tão mal-encarada quanto na concorrência. E na verdade, faz até mais sentido.

Desde que os consoles passaram a ficar cada vez mais próximos do PC em especificações técnicas e arquiteturas de programação, o final de cada geração deixou de ser o momento em que vemos apenas jogos extraírem o máximo do hardware em que estão, mas também se tornou um ponto em que as máquinas já conseguem mais rodar direito os lançamentos. 

Diante desse desafio, Sony e Microsoft tentaram acabar com esse gargalo lançando atualizações pontuais como o PS4 Pro e o Xbox One X. A Nintendo, por sua vez, não fez o mesmo com o Switch, que permaneceu sem atualizações de hardware até mesmo no modelo OLED. Na parte final dessa jornada de oito anos, quem desenvolve jogos AAA para o Switch tem operado pequenos milagres quando se trata de criar mundos expansivos e detalhados, mas as limitações físicas de um console com processador de tablet de 2017 foram ficando cada vez mais evidentes.

Por isso, o Switch 2 não entrega só uma experiência melhorada de jogos que o Switch 1 já tinha, mas, em alguns casos, o console chega para tornar jogáveis alguns títulos que seu antecessor já não conseguia rodar direito. The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom e Pokémon Scarlet e Violet são os melhores exemplos, já que são dois jogos que sofriam quando muitos elementos começavam a aparecer na tela. Ambos receberam melhorias importantes na resolução e, no caso de Pokémon, na taxa de quadros, e finalmente entregam o que propõem sem gargalos técnicos.

Até mesmo jogos de boa performance no Switch 1 ganharam vida nova em seu sucessor, como é o caso das remasterizações de Tears of the Kingdom e Breath of the Wild, que aproveitam todo o poder do Switch 2 para rodar em resolução 1080p e taxas de 60 quadros por segundo. A melhoria técnica aparentemente simples faz tanta diferença que, inadvertidamente, faz destes dois jogos campeões de venda da geração anterior serem alguns dos melhores garotos-propaganda do atual console.

Quando se trata de títulos multiplataforma, o hardware superior do Switch 2 abre portas para estúdios de games disponibilizarem os jogos de PS4 e Xbox One que o Switch 1 não comportava e começarem a lançar jogos da atual geração nas plataformas da Nintendo, repetindo a estratégia de sucesso do Switch 1, em que o apelo irresistível de jogar em modo portátil compensa o atraso em relação às demais plataformas.

As tecnologias de ampliação de imagem como o DLSS prometem inclusive ser grandes aliados do Switch 2, especialmente se as publishers estiverem dispostas a otimizar seus jogos para aproveitar o potencial pleno da plataforma. Cyberpunk 2077 é o principal exemplo aqui, rodando melhor no console da Nintendo do que em concorrentes da esfera portátil como o Steam Deck.

Por fim, a Nintendo traz com o Switch 2 uma maneira diferente de compartilhamento de jogos digitais: os cartões de jogo virtuais. Todos os jogos da sua coleção são transformados em cartões, que funcionam da mesma forma que um cartucho físico. Eles precisam ser “inseridos” e só funcionam em um console por vez, mas também podem ser emprestados para os membros de sua família no Switch Online.

Em um movimento que, no melhor estilo da Nintendo, é ao mesmo tempo inovador e burocrático, o Switch 2 faz algo inédito entre as plataformas de jogos, permitindo que você empreste suas mídias digitais para outras pessoas, ainda que em uma capacidade limitada. Mas, para criar esse formato, a empresa praticamente matou o compartilhamento da mesma conta entre aparelhos diferentes, já que, para ativar seus cartões de jogo virtuais, é obrigatório vincular apenas um Switch 1 e um Switch 2 à sua conta da Nintendo.

O saldo do novo sistema é positivo, já que os usuários do Switch agora ganham uma opção de compartilhamento de jogos que simplesmente não existe em nenhuma outra plataforma, seja em consoles, seja no PC. Mas o processo para fazer tudo isso funcionar dará aos usuários que compartilham contas uma bela dor de cabeça para desemaranhar aparelhos até habilitar tudo.

Conclusão

O Nintendo Switch 2 faz exatamente o que todo mundo esperava. É um console melhor, mais poderoso e mais veloz do que o seu antecessor direto, entregando a mesma ideia de aparelho híbrido entre portátil e console de mesa com mais poder, resolução e capacidade gráfica.

O apelo irresistível dos jogos first-party da Nintendo certamente será o maior atrativo para comprar o novo console, mas as configurações do aparelho o colocam como um concorrente capaz dentro do espaço de portáteis, o que deve garantir uma boa oferta de lançamentos nos próximos anos, além dos já esperados ports de games multiplataforma recentes.

Mesmo jogando seguro, o Switch 2 mostra que a Nintendo não esqueceu de seu DNA peculiar, o que resultou em decisões estranhas como o GameChat, e estratégias sensatas como o compartilhamento de jogos em mídia digital. No melhor estilo da casa de Mario e Zelda, ambas as ideias podem dar muito certo ou muito errado, mas, caso aconteça a primeira opção, não é exagero dizer que o console pode, ainda que sem querer, criar novos padrões na indústria.

A ideia do Switch 2 é de continuidade, o que em um primeiro momento pode até ter um apelo mais difícil levando-se em conta o preço de até R$ 4,7 mil cobrado pelo aparelho no Brasil, fora os preços dos jogos, que podem chegar a até R$ 500 no lançamento, como Mario Kart World demonstrou. 

Mas, se o histórico de seu antecessor servir de base, o que a Nintendo certamente almeja repetir, o Switch 2 certamente está pronto para pavimentar mais uma década de grandes jogos e experiências.

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