Cerrado tem a savana mais rica do mundo, mas é tratado como ‘bioma do sacrifício’

Notícia

Segundo maior bioma do país, Cerrado bateu novos recordes de devastação, enquanto governo celebra reversão dos índices de desmatamento na Amazônia.

Por g1

Dados do Inpe divulgados nesta quinta-feira (3) alertaram, mais uma vez, para uma situação de degradação no Cerrado, o segundo maior bioma do país.

Enquanto o governo Lula termina o primeiro semestre celebrando reversão do desmatamento na Amazônia – taxa é a menor em quatro anos – os alertas de destruição batem recorde no Cerrado. A região teve o pior resultado na sua série histórica do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que começou a ser medida entre 2017 e 2018.

O Cerrado está presente em 14 estados e mais o Distrito Federal, cobrindo cerca de 25% do território nacional. A região é a mais biodiversa do mundo e tem mais de 4,6 mil espécies de plantas e animais que não são encontrados em nenhum outro lugar, segundo um artigo de pesquisadores do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS) e de outras instituições nacionais e internacionais.

Em entrevista a Natuza Nery, a mestre em Ecologia e coordenadora do programa Cerrado e Caatinga no ISPN, Isabel Figueiredo, avalia que “o Cerrado está sendo colocado como um bioma de sacrifício para poder preservar a Amazônia”.

“É óbvio que [a Amazônia] é um bioma que precisa muito ser conservado. Mas se a gente conservar somente a Amazônia e o Cerrado for embora, a gente vai estar, inclusive, degradando a própria Amazônia porque há uma integração muito grande entre os biomas”, diz.

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De acordo com Isabel Figueiredo, a maior parte do desmatamento se dá em áreas privadas, que têm de estar inscritas no Cadastro Ambiental Rural, registro criado para regularizar áreas ambientais e conter desmatamento.

“O proprietário tem ainda muita margem para declarar a sua reserva legal em cima de áreas que não são dele”, explica.

Segundo a pesquisadora, não é raro que proprietários de terras dentro do bioma se utilizem do Cadastro Ambiental Rural como se fosse um “documento de terra”, chegando a apoiar a grilagem.

Na avaliação de Isabel, os principais entraves para a preservação do Cerrado são:

  • o atraso no processo validação do Cadastro Ambiental Rural;
  • a baixa proteção do código florestal dentro de propriedades privadas;
  • a baixa porcentagem de áreas protegidas em todo o bioma: entre 6% e 8% .