Conheça única escola de surfe com chancela da WSL no mundo, em Saquarema

Esportes

Por Flávio Dilascio, Raphael de Angeli e Winne Fernandes

A cena já faz parte da rotina de Saquarema-RJ. No horário oposto às respectivas aulas, estudantes da rede pública municipal se dirigem à Praia de Itaúna para o momento mais aguardado do dia. Saem as mochilas e cadernos, entram as pranchas, lycras e parafinas. Essa é a rotina dos 100 alunos do centro de treinamento Léo Neves, a única escola de surfe do mundo com chancela da WSL, a principal liga internacional da modalidade.

O ge visitou o local durante o Rio Pro, a etapa brasileira do Circuito Mundial. Inaugurado em julho de 2022, o CT segue uma metodologia criada pelo treinador Leandro Dora, pelo preparador físico Allan Menache e pela ex-surfista profissional Andrea Lopes. Além dos alunos da escolinha, o CT também recebe 20 atletas de alto rendimento. 

– Nós temos uma parceria de muitos anos com a Prefeitura de Saquarema e para nós é motivo de muita honra participar disso, do principal centro de treinamento de surfe do Brasil. Isso aqui é um hardware, um prédio e precisava de um programa para desenvolver isso. Foi então que nós construímos a nossa metodologia para devolver para a comunidade o que ela proporciona para o surfe brasileiro – comentou o presidente da WSL para a América Latina, Ivan Martinho.

A metodologia criada por Leandro Dora, Allan Menache e Andrea Lopes foi registrada em livro. A única edição da publicação está guardada dentro do próprio CT Léo Neves. Nem a WSL nem a direção do CT pretendem comercializar a edição, que é tida como primeiro manual de treinamento da história do surfe. 

– O que a gente notou é que muitos treinadores brasileiros possuem conhecimento impressionante, mas estava tudo na cabeça deles, nada sistematizado. Então nós criamos esse manual de treinamento para desenvolver tudo o que foi feito na Brazilian Storm com o público em geral. Tão importante quanto pensar no presente é pensar no médio e longo prazo. A gente já viu esportes no Brasil onde surgiram ídolos, mas que não tiveram continuidade. Quanto mais inspiração que esses ídolos trazem, mais gente vai querer praticar. Mas não adianta praticar por praticar. Precisa existir um caminho. Se não houver um caminho que exista apoio e metodologia, é possível que esse apoio se perca – completou Ivan Martinho.

Criador celebra sucesso do CT

De passagem por Saquarema para acompanhar seus atletas no Rio Pro, Leandro Dora faz uma breve explicação da metodologia. Treinador de Adriano de Souza em 2015, quando o mesmo conquistou o seu único título mundial, ele espera que o método ajude na formação de novos valores do surfe brasileiro. 

– A gente aborda não só a parte técnica como a parte emocional do surfe, o elo entre o ser humano e a natureza. O surfe é uma terapia, que acaba direcionando as crianças para esse lado. Você chegar na praia e ver uma criança aplicando isso é algo que nos deixa muito felizes – destacou.

Grilo também contou que foi um tanto complicado aceitar o convite da WSL para desenvolver o manual. No entanto, ele acabou tocado por tudo o que envolve o projeto, inclusive o nome do CT, dado em homenagem a Léo Neves, surfista de Saquarema morto em 2019.

– A WSL me procurou falando que tinha um projeto para criar um CT e que precisavam de uma metodologia criada por alguém que trabalhasse no ramo do surfe há algum tempo. Eu falei: “Não dá, porque eu estou na estrada direto e nem vou conseguir dar atenção necessária”. Depois vi que tinha muita coisa envolvida, um centro de treinamento em homenagem ao Léo Neves na Praia de Itaúna… É muita coisa que mexe com a alma do surfe nacional. Então acabei aceitando e a gente viu de que maneira a gente ia colocar esse milhão de ideias numa metodologia prática. Gastamos muitas horas estudando o que seria importante aplicar aqui no CT. Acho que o resultado final foi incrível e eu tive uma surpresa muito boa quando vi o produto final – comentou.

CT já colhe primeiros frutos

Dentre os surfistas de alto rendimento que treinam no CT, Rickson Falcão é tido como nome de maior destaque. Aos 15 anos, ele já soma seis títulos estaduais nas divisões de base do surfe. Rickson, que é local de Saquarema, já competia no surfe quando o centro de treinamento foi criado. Segundo o atleta, ele se desenvolveu bastante depois que passou a contar com a estrutura. 

– Teve uma mudança drástica no meu treinamento, mesmo porque dá uma confiança para as minhas competições. Temos o Arthur Máximo, nosso coach, que é um ídolo local, e o Claudinho, que é excelente na preparação física. Quando você tem uma equipe, você se sente melhor, preparado. O surfe é isso, preparação, cuidar do corpo e se divertir, fazendo o que gosta – frisou.

Mineirinho aprova o CT

Principal pupilo de Leandro Dora, Adriano de Souza, o Mineirinho, visitou o CT Léo Neves durante a semana e gostou do que viu. Segundo o atleta, a metodologia criada pelo treinador pode contribuir para a formação de novos valores. 

– Todo o treinamento que eu tive com o Leandro eu ainda uso. Porque hoje sou treinador e todos esses ensinamentos foram válidos para a minha vida. O Leandro foi um mestre mesmo. No jiu-jítsu tem um mestre que ensina todos os golpes e manobras, e o Leandro para mim foi essa pessoa no surfe. É importantíssimo ter esse acompanhamento desde cedo. Você pode usar essa metodologia em meninos de 10 anos e atletas de alto rendimento como o Jack Robinson, que é treinado pelo Leandro. Isso é o surfe ganhando a organização que a gente busca há muito tempo – concluiu.

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