Rede estadual inicia ano letivo fechando o cerco contra o celular

Notícia

PIETRA NÓBREGA
DA REDAÇÃO

O retorno às aulas nas escolas estaduais de Cuiabá, nesta segunda-feira (3), veio acompanhado da implementação de uma nova regra: a proibição do uso de celulares dentro das unidades.

A ideia é que os alunos realmente não usem o celular durante o período em que estiverem na escola, nem nos intervalos

A medida, que foi sancionada no final de 2023, determina que os alunos não utilizem os aparelhos em nenhum momento do período letivo, incluindo intervalos e recreios.

O objetivo é reduzir as distrações e melhorar o desempenho acadêmico, mas a mudança têm gerado reações diversas entre estudantes e professores. 

Para entender como a medida está sendo recebida na prática, o MidiaNews esteve na Escola Estadual Alcibíades Calhao, no bairro Quilombo, onde conversou com alunos, professores e a direção da unidade.

A diretora Cleonice Vobeto explicou como será o controle do uso dos celulares. Segundo ela, a ideia inicial é a conscientização dos alunos, mas medidas mais rigorosas podem ser adotadas se necessário. 

“Nós temos alguns recursos, como a caixinha do celular, que já utilizávamos no ano passado e que funcionou relativamente bem. Mas, agora, a lei veio para ser cumprida. A ideia é que os alunos realmente não usem o celular durante o período em que estiverem na escola, nem nos intervalos. Eles podem optar por guardá-lo na bolsa ou entregá-lo para ser armazenado na caixinha e devolvido no final da aula”, explicou. 

A diretora também detalhou o procedimento para casos de descumprimento da regra. “Se o aluno insistir no uso indevido e não cumprir as regras, nós recolheremos o celular e chamaremos os pais para uma conversa. Vamos trabalhar na conscientização”, afirmou. 

Cleonice explicou que o tema será abordado em uma reunião com todos os estudantes. “Nosso primeiro contato com os alunos sobre isso será hoje. Vamos reuni-los na quadra e falar sobre algumas regras, como o uso do uniforme, horário de entrada e, principalmente, a proibição do celular. O celular é o que mais causa transtorno na escola, porque desvia completamente a atenção dos estudantes para conteúdos que não têm nada a ver com a educação”, disse. 

Para os estudantes, a nova regra divide opiniões. A aluna Ana Júlia Rodrigues, de 14 anos, disse que a escola já havia implementado restrições ao uso do celular no ano passado, mas, agora, a proibição se tornou mais rígida.

“No meio do ano passado, os coordenadores fizeram uma reunião com os pais e avisaram que o celular seria guardado dentro de uma caixinha na sala. A gente só podia usar no intervalo e depois eles devolviam no final da aula. Todo mundo respeitava isso”, contou. 

Agora, com a proibição total, a estudante acredita que a medida pode ser benéfica dentro da sala de aula, mas discorda da restrição nos momentos de descanso. “Eu concordo com a proibição dentro da sala, porque atrapalha muito. Mas não concordo com a proibição no recreio. Tem gente que não gosta de socializar e prefere ficar quietinho mexendo no celular. Eu sou assim”, opinou. 

Ana Júlia também acredita que alguns alunos podem desrespeitar a regra. “Muitos vão usar escondido no banheiro. Na minha sala, eu sou líder e ficava apavorada com isso no ano passado. Os professores brigavam, mas sempre tinha alguém mexendo escondido”, relatou. 

Para os professores, a medida deve trazer benefícios ao aprendizado. Maria Benedita, de 53 anos, que leciona Inglês, afirmou que o uso excessivo dos celulares em sala de aula já prejudicava o ensino.

“Ano passado, os alunos não copiavam nada. Só tiravam foto [do quadro negro] e falavam: ‘Prof, depois eu faço’. Mas esse ‘depois’ nunca chegou. Agora, eles vão ter que escrever, usar a mãozinha para copiar”, disse. 

Ela acredita que, no início, haverá resistência por parte dos alunos, mas que a adaptação acontecerá naturalmente. “No começo, vai ser difícil, mas nós, professores, vamos conseguir fazer com que a regra seja respeitada. Em uma semana, já deve estar tudo melhor. Sem celular, conseguimos dar uma aula mais produtiva e fazer com que os alunos realmente participem”, afirmou. 

Vinda de outra escola, Maria Benedita contou que já teve experiências diferentes com o celular em sala de aula. “Na escola Joaquim da Cerqueira, havia a caixinha do celular, e era bem tranquilo. Mas na João Briene de Camargo, não tinha e o aluno ficava o tempo todo no celular. Agora, com essa padronização da lei, acredito que vai ficar mais fácil de lidar com o problema”, avaliou. 

Nos próximos dias, a escola seguirá monitorando a implementação da regra e orientando os estudantes sobre a importância de manter o foco nos estudos.

“O objetivo não é punir, mas sim conscientizar. Queremos que nossos alunos entendam que a escola é um ambiente de aprendizado, e que o celular pode ser um aliado, desde que usado da maneira correta”, disse a diretora Cleonice.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *