Significado da amizade; como a filosofia a define?

Notícia

Por Renata Peluso

Onde está a virtude que une os amigos? Entendo que a amizade sempre engloba fidelidade e estima. Mas para a filosofia isso não é o suficiente para chamar alguém amigo. Existe um elemento fundamental que precisa estar presente e, que hoje, falta nas definições do dicionário, da internet e, principalmente, nas relações.

A amizade é um laço que não se baseia apenas em interesses e diversões, mas em virtudes e crescimento humano. E, para ter amigos, temos que ser autossuficientes e não carências, pois aquele que só quer receber não é amigo e nem conseguirá estabelecer amizades verdadeiras.

A pessoa mais apta a ser um bom amigo é aquela que possui virtudes para compartilhar e ensinar. Por isso, cultivar amizades exige um conhecimento profundo de si mesmo. Encontrar nossas virtudes e a forma acertada de compartilhá-las com os outros para que nossos amigos sejam cada vez mais felizes e plenos pelo simples fato de serem nossos amigos.

Mas quando queremos alguém que aprove tudo o que fazemos, que não nos desagrade e nos coloque em um pedestal, estamos querendo um bajulador, não um amigo. Ter um amigo é ter um farol que ilumina nosso caminho para um destino de mais virtude e mais luz. Ele nos ajuda a sermos fiel a nós mesmos. E nós fazemos o mesmo pelo outro: iluminamos e apoiamos sempre que os fins e os meios forem corretos.

Para a filosofia, a amizade é fundamental para uma vida completa e saudável. Não há felicidade possível em uma vida isolada e sem amigos. E isso é verdadeiro em qualquer época e em qualquer situação. Para que uma amizade se desenvolva é preciso um grau de “olho no olho” que não seja apenas virtual. Talvez esse seja um dos maiores desafios para manter uma amizade viva em um mundo conectado.

A comodidade de relacionamentos muito virtuais e distantes pode chegar atrofiar nossa capacidade de cultivar amizades verdadeiras. Estar por trás das telas gera uma segurança falsa e sedutora. Não nos expomos e podemos fugir com facilidade de situações que nos colocam à prova.

Gostar de ter amigos é gostar de ter alguém que nos tire da zona de conforto, que nos incentive a vencer os desafios e as situações difíceis que nos farão crescer. É ter coragem de compartilhar a própria vida com outro ser humano, e não oferecer apenas a imagem que conseguimos criar sem esforço em um mundo virtual.

Os amigos são poucos e provavelmente poderão ser contatos nos dedos de uma mão. E isso não é um problema, mas uma lei da natureza. Acontece com a amizade o mesmo que acontece com o ouro na natureza: é valioso e especial por ser raro. Não seria diferente com os verdadeiros amigos.

Renata Peluso é mestre em Engenharia de Software, filósofa e professora voluntária da Organização Internacional Nova Acrópole há mais de 25 anos.